http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2705090&seccao=Paulo%20Baldaia&tag=Opini%C3%A3o%20-%20Em%20Foco
Na
Justiça (como custa escrevê-la com maiúscula) portuguesa passa-se de
tudo a todo o tempo. E não há nada que possa contribuir tanto para o
descrédito da democracia (como seria bom poder escrevê-la com maiúscula)
em que vivemos. Desta semana sobram duas notícias a revelar como tudo
continua na mesma: a hierarquia do Ministério Público não gostou de ser
criticada por um colectivo de juízes e uma juíza obrigou o presidente da
Câmara do Porto a ir a tribunal negar que seja um FDP. Vamos por
partes.
1 - O Ministério Público que costuma condenar na praça
pública, com a ajuda de jornalistas pouco incomodados com a presunção de
inocência, vai a tribunal declarar que não produziu provas para pedir
penas para os arguidos. Isto foi assim no caso do Freeport como costuma
ser na maioria dos casos que envolvem políticos. Os juízes, porque
também lêem jornais, ilibam os condenados na praça pública mas valorizam
o diz que disse e desafiam os procuradores a recomeçar o trabalho. No
respeito pelas hierarquias que detêm o monopólio de mandar investigar os
seus pares nada vai acontecer. Eles são as corporações e nós os
palhaços.
2- Um empresário, dono de uma revistazeca do Porto de
que eu desconhecia a existência, resolve insultar o presidente da Câmara
colocando na capa dessa revista a frase "Rio és um FDP". Rui Rio, como
faria qualquer outro cidadão, recorre aos tribunais para impedir que
essa revista circule mas não se livra de ter de explicar à senhora juíza
que não é um Fanático Dos Popós. O dito empresário alegava que era aos
popós que se referia e, pelo que se presume da audiência, se Rio tivesse
assumido que depois do trabalho e da família todo o tempo que lhe sobra
servia para alimentar a alegada paranóia pelos ditos popós bem podiam
circular 60 mil exemplares de uma revista a chamar-lhe Filho Da Puta.
Triste justiça que tem de ceder aos caprichos de uma juíza. Não era
preciso ter perdido uma manhã de um tribunal que, por estar de férias,
só julga casos sérios e urgentes, bastava ter feito o que eu fiz e
procurar na Net o significado de FDP. E lá aparecem no Dicionário
InFormal várias frases em que é usada "a abreviação para Filho da Puta,
amplamente difundida na Internet, quase que estritamente utilizada na
forma escrita". Para este caso achei piada ao sexto exemplo: "Que
injustiça, aquele juiz fdp não viu a falta."
Cá vamos nós cantando
e rindo, num país em que uma parte significativa dos cidadãos mergulhou
na miséria, num país em que os políticos passam a vida a falar de
reformas estruturais mas em que nunca muda nada na justiça. Neste país a
lei não é o mais importante, o mais importante é o poder que está nas
mãos de procuradores,