domingo, 5 de agosto de 2012

In justiça

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In justiça

por PAULO BALDAIAHoje18 comentários
Na Justiça (como custa escrevê-la com maiúscula) portuguesa passa-se de tudo a todo o tempo. E não há nada que possa contribuir tanto para o descrédito da democracia (como seria bom poder escrevê-la com maiúscula) em que vivemos. Desta semana sobram duas notícias a revelar como tudo continua na mesma: a hierarquia do Ministério Público não gostou de ser criticada por um colectivo de juízes e uma juíza obrigou o presidente da Câmara do Porto a ir a tribunal negar que seja um FDP. Vamos por partes.
1 - O Ministério Público que costuma condenar na praça pública, com a ajuda de jornalistas pouco incomodados com a presunção de inocência, vai a tribunal declarar que não produziu provas para pedir penas para os arguidos. Isto foi assim no caso do Freeport como costuma ser na maioria dos casos que envolvem políticos. Os juízes, porque também lêem jornais, ilibam os condenados na praça pública mas valorizam o diz que disse e desafiam os procuradores a recomeçar o trabalho. No respeito pelas hierarquias que detêm o monopólio de mandar investigar os seus pares nada vai acontecer. Eles são as corporações e nós os palhaços.
2- Um empresário, dono de uma revistazeca do Porto de que eu desconhecia a existência, resolve insultar o presidente da Câmara colocando na capa dessa revista a frase "Rio és um FDP". Rui Rio, como faria qualquer outro cidadão, recorre aos tribunais para impedir que essa revista circule mas não se livra de ter de explicar à senhora juíza que não é um Fanático Dos Popós. O dito empresário alegava que era aos popós que se referia e, pelo que se presume da audiência, se Rio tivesse assumido que depois do trabalho e da família todo o tempo que lhe sobra servia para alimentar a alegada paranóia pelos ditos popós bem podiam circular 60 mil exemplares de uma revista a chamar-lhe Filho Da Puta. Triste justiça que tem de ceder aos caprichos de uma juíza. Não era preciso ter perdido uma manhã de um tribunal que, por estar de férias, só julga casos sérios e urgentes, bastava ter feito o que eu fiz e procurar na Net o significado de FDP. E lá aparecem no Dicionário InFormal várias frases em que é usada "a abreviação para Filho da Puta, amplamente difundida na Internet, quase que estritamente utilizada na forma escrita". Para este caso achei piada ao sexto exemplo: "Que injustiça, aquele juiz fdp não viu a falta."
Cá vamos nós cantando e rindo, num país em que uma parte significativa dos cidadãos mergulhou na miséria, num país em que os políticos passam a vida a falar de reformas estruturais mas em que nunca muda nada na justiça. Neste país a lei não é o mais importante, o mais importante é o poder que está nas mãos de procuradores,

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